segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Madalena, a pregadora, não a prostituta

"Madalena beija os pés de Jesus em casa do fariseu", de Giotto, arte baseada num mal-entendido 

É quase impossível desmentir a cultura popular, que diz que Maria Madalena era prostituta (isto foi muito propalado por causa de “O Código da Vinci”). Não era. Ou, pelo menos, não podemos inferir isso dos evangelhos. Maria de Magdala era muito doente, isso sim, tinha sete espíritos, uma perfeição de doenças. Jesus expulsa-os e ela fica curada.

Não tem nada a ver com a “pecadora pública” que lava os pés de Jesus com lágrimas em Betânia (de quem não se refere o nome em Mc 14,3ss; mas Jo 12,3  refere um episódio similar com Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro, não dizendo, no entanto, que é “pecadora”). Na Bíblia há uma ligeira confusão - ou possibilidade de confusão - entre a pecadora e Maria de Betânia. Mas fora da Bíblia junta-se mais uma Maria, a magdalena, para aumentar a confusão.

A junção das três mulheres numa só vem de Gregório Magno (papa de 590 a 604) e é difundida por Bernardo de Claraval (1090-1153). Cai bem na espiritualidade medieval, porque era um modelo acessível. As mulheres não são nem Eva, a pecadora, nem Maria de Nazaré, a virgem. São madalenas, pecadoras arrependidas, pecadoras que são redimidas. Pessoas normais para o bem e para o mal.

Se a pecadora fosse Maria de Betânia, a coisa não ficava bem feita, porque não se diz que é Maria de Betânia que está junto à cruz e é a primeira a ter conhecimento da ressurreição. Mas diz-se isso da Madalena. Então, nos teólogos medievais, a Madalena absorve as outras marias.

Isto vem a propósito de quê? Porque li que, tendo sido a primeira a pregar a ressurreição, como é repetido em todas as páscoas, Maria Madalena foi a  escolhida para padroeira da Ordem dos Pregadores (dominicanos) – e isto eu não sabia. Li na página 210 de “Porquê ir à Igreja”, de Timothy Radcliffe. É por estas e outras pequenas notas em função de uma mensagem maior que este livro é uma maravilha.

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