segunda-feira, 27 de julho de 2009

DSI 23: Da RN à CV, a "Sollicitudo Rei Socialis" (1)

Libertação da solidariedade

Quando a SRS foi publicada, no final de 1987 (30 de Dezembro), as atenções recaíram no n.º 44, que afirma que há nações que “precisam de reformar algumas estruturas injustas e, em particular, as suas instituições políticas, para substitui regimes corruptos, ditatoriais ou autoritários por regimes democráticos, que favoreçam a participação”. Nunca um documento eclesial fora tão explícito a pedir reformas políticas nem tão claro a apontar as causas do subdesenvolvimento. João Paulo II refere-se aos “dois blocos contrapostos” e também ao imperialismo e neocolonialismo, ao desvio de recursos para o armamento, ao isolamento egoísta, ao comércio de armas, ao problema demográfico…

A SRS, escrita já no declínio da Teologia da Libertação, será provavelmente a encíclia social mais próxima desta corrente de teologia que, principalmente na América Latina, defendia energicamente a participação social dos mais desfavorecidos, por vezes com ideologias e métodos tidos próximos do marxismo. O Papa a ela se refere com estas palavras: “No período que se seguiu à publicação da encíclica «Populorum Progressio» nalgumas áreas da Igreja Católica (…), difundiu-se uma nova maneira de enfrentar os problemas da miséria e do subdesenvolvimento, que faz da libertação a categoria fundamental e o primeiro princípio de acção”. “Aspirar à libertação de toda e qualquer forma de escravatura, relativa à pessoa e à sociedade, é algo de nobre e válido”, acrescenta depois de notar que a Teologia da Libertação tinha (tem) valores positivos e desvios.

Porém, a ideia que está na base da SRS é a de solidariedade – não esquecer que o João Paulo II vinha da Polónia, onde a revolução provocada pelo sindicato Solidariedade (Solidarnosc) ainda estava em curso.

O termo «solidariedade» aparece 27 vezes na SRS, substituindo, por exemplo, «igualdade» (como no n.º 33: “O desenvolvimento deve realizar-se no quadro da solidariedade e da liberdade, sem jamais sacrificar uma e outra, com nenhum pretexto”). A solidariedade é definida não como “sentimento de compaixão vaga ou de enternecimento superficial pelos males sofridos por tantas pessoas próximas ou distantes”, mas como “determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos”. “A solidariedade que nós propomos – diz João Paulo II – é caminho para a paz e, ao mesmo tempo, para o desenvolvimento”.

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No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...